Análise: Leitura Técnica e Tática do UFC 213 e TUF 25 Finale

Kaue Macedo analisa os destaques do UFC 213
Whittaker vs. Romero (Foto: MMAFighting.com)

Como de costume, a UFC International Fight Week de 2017 aconteceu em Las Vegas, no estado americano de Nevada, e contou com dois eventos na semana. O primeiro foi The Ultimate Fighter 25 Finale, que aconteceu na sexta-feira e foi liderado pela incrível luta entre Justin Gaethje e Michael Johnson, e o segundo foi o UFC 213, que aconteceu no sábado e foi liderado pela fantástica disputa pelo cinturão interino do peso médio entre Robert Whittaker e Yoel Romero.

Hoje, analisaremos de forma geral as duas lutas mais importantes do fim de semana, que, infelizmente, não conta com o embate épico que seria Amanda Nunes x Valentina Shevchenko, cancelado de última hora por problemas de saúde (ou psicológicos, como cogitou Dana White) da brasileira.



Gaethje vs. Johnson (Foto: Getty Images)

Justin Gaethje x Michael Johnson

Maior campeão da história do WSOF ao lado de Marlon Moraes e David Branch, Justin Gaethje é o clássico brawler comumente visto nas lutas de boxe de cem anos atrás, mas, por algum motivo, seu estilo funciona nos dias de hoje, onde o nível técnico é mais alto do que nunca.

Michael Johnson é tecnicamente superior a Justin Gaethje na trocação, ele tem um boxe alinhado, boa movimentação e bom controle de distância, fato que comprovou diversas vezes, inclusive em sua última vitória, quando mandou o duríssimo Dustin Poirier para outra dimensão em pouco mais de um minuto e meio de luta.

Para que possa ser bem sucedido, o brawler costuma precisar de três coisas que não se obtém treinando: coração, queixo e poder de nocaute. Gaethje provavelmente tem dois corações em seu peito, um queixo de adamantium e um poder de nocaute consideravelmente alto. É preciso ter culhão para fazer esse tipo de luta, e, muitas vezes, seus adversários caem na pilha e deixam de disputar uma luta de MMA para disputar um duelo de cascas-grossas, e quando acontecem essas disputas, o brawler geralmente leva vantagem.

Michael Johnson entrou como favorito e começou lutando da maneira correta, fazendo a manutenção de distância, buscando fazer o trabalho de pernas para não ficar com as costas para a grade, aplicando contragolpes e fazendo a clássica combinação dos out-boxers de entrar, bater e sair.

Gaethje ia fazendo seu jogo e nunca parava de pressionar, sempre andando para frente, aplicando golpes duros da média para a curta distância, trabalhando low kicks e sufocando Johnson contra a grade. O veterano do UFC respondeu tudo isso a altura no primeiro round, conseguindo até mesmo atordoar o estreante com um belo cross de direita nos segundos finais, que foi seguido por uma queda e a garantia de um 10-9.

Michael Johnson começou a entrar no jogo do adversário no início do segundo e ia chegando cada vez mais perto do infight, trocando de forma franca com o Highlight. A superioridade técnica de Johnson o fez sair na frente de novo e ele balançou o oponente novamente, dessa vez com a mão esquerda.

Na cabeça de MJ, provavelmente era questão de tempo até Gaethje cair, mas ele não percebeu (pelo menos até o final da luta) que estava enfrentando um zumbi que nunca parava de persegui-lo e nunca caia. Justin foi pressionando e respondendo aos golpes no seu estilo de luta padrão, enquanto Johnson lutava de forma diferente do de costuma, e foi questão de tempo para acontecer o que falei lá em cima: “seus adversários deixam de disputar uma luta de MMA para disputar um duelo de cascas-grossas, e quando acontecem essas disputas, o brawler geralmente leva vantagem”.

Assim que atordoou o adversário pela primeira vez, Gaethje começou a colocar ainda mais pressão e aplicou combinações brutais de uppercuts, cruzados, overhands, joelhadas e o que mais veio na sua cabeça, e esse ritmo foi demais para Michael Johnson, que foi ao chão ainda consciente, mas completamente destruído pelo novo herói dos fãs de batalhas sangrentas.

Whittaker vs. Romero (Foto: MMAFighting.com)

Robert Whittaker x Yoel Romero

É impressionante pensar que essa disputa de cinturão interino foi inacreditavelmente superior em vários aspectos diferentes à última disputa pelo cinturão linear no peso médio do UFC. Aquela mão esquerda de Michael Bisping que derrubou o fenomenal Luke Rockhold custou caro para o restante dos lutadores da divsão, mas a guerra que presenciamos entre o ainda promissor Robert Whittaker e o assustador Yoel Romero parece carregar consigo o sinal de tempos de paz.

Não é segredo para ninguém que Yoel Romero é um monstro nos dois primeiros rounds, mas costuma cair de rendimento a partir do terceiro assalto. Esse é um fato irrefutável, inclusive levando em conta que ele nocauteou Chris Weidman, Lyoto Machida, Tim Kennedy, Derek Brunson e Ronny Markes nesse mesmo round. Uma análise um pouco mais aprofundada é o suficiente para perceber isso.

Nos dois primeiros rounds, Yoel Romero foi superior e conseguiu abrir dois pontos de vantagem. No primeiro, uma trocação consistente, principalmente com chutes nas pernas, foi o principal fator para sair na frente, enquanto no segundo utilizou o wrestling fantástico para, de certa forma, anular o adversário durante boa parte do assalto e conseguir outro 10-9.

A partir do terceiro round, dois fatores chamaram a atenção. O primeiro foi a queda brusca de rendimento de Romero, que foi bem mais grave do que em algumas outras lutas, e a capacidade que Robert Whittaker teve de superar uma lesão e continuar lutando de forma fantástica.

Whittaker foi extremamente veloz, ele conseguia cortar o octógono num piscar de olhos, saindo da longa para a curta distância antes que Romero conseguisse reagir. A lesão de Whittaker foi no joelho esquerdo, e mesmo assim o desgraçado se movimentava de forma fluida e aplicava diversos chutes em vários níveis diferentes. Com ótimo trabalho de pernas para um lutador lesionado e boas entradas com golpes longos e retos, cruzados de esquerda e chutes no corpo, Whittaker levou vantagem nos rounds três e quatro.

No quinto round, Romero foi duríssimo e tirou energias de onde não tinha para colocar mais pressão que o de costume e tentar levar o round. Whittaker continuava fazendo seu jogo na trocação, apesar de ter um pouco mais de dificuldade devido a lesão e ao cansaço, mas foi uma obra do acaso que acabou com a luta para o cubano.

Ao tentar aplicar um chute, Romero caiu e Whittaker, assim que viu a brecha, voou em direção à guarda do vice-campeão olímpico. A partir dali, o australiano sufocou o adversário, mantendo o controle posicional e trabalhando seu ground and pound. Romero não tinha muita a oferecer e acabou ficando ali até o final da luta, perdendo o round mais importante de sua vida.



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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