Análise: A Leitura Técnica e Tática do UFC Fight Night 110: Lewis vs. Hunt

No último sábado, o UFC foi, pela segunda vez em sua história, até Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia, para realizar mais um Fight Night, dessa vez com...

No último sábado, o UFC foi, pela segunda vez em sua história, até Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia, para realizar mais um Fight Night, dessa vez com os gigantes Derrick Lewis e Mark Hunt liderando o evento. O card principal ainda foi recheado de nocautes e finalizações protagonizados por Derek Brunson, Dan Hooker, Ion Cutelaba e Bem Nguyen.



The Black Beast, apelido carinhoso de Derrick Lewis, entrou na luta como sexto colocado no ranking oficial dos pesos pesados do UFC e vinha de uma sequência de vitórias impressionante de seis triunfos, sendo cinco delas por nocaute, e incluindo nomes importantes como Roy Nelson e Travis Browne.

Mark Hunt, que pinta o cabelo de loiro e usa o apelido Super Samoan em referência a Dragon Ball, entrou na luta em sétimo lugar no ranking, uma posição abaixo de seu adversário, mas vinha de duas derrotas (sendo que uma virou no-contest), para o ex-campeão do Strikeforce Alistair Overeem e para o ex-campeão do UFC Brock Lesnar.

Apesar de estarem em momentos totalmente diferentes, o matchmaker do UFC arriscou um combate que poderia virar o meio da tabela do avesso (e virou!) e colocou esses dois gigantes para se enfrentarem. Hoje, analisaremos as partes técnicas e táticas mais importantes da luta principal do UFC Fight Night 110.

Derrick Lewis cometeu vários erros táticos durante a luta, muitos deles eram justificáveis, já que era a forma que ele geralmente lutava, mas os ajustes necessários para enfrentar alguém como Mark Hunt não foram feitos e ele pagou o preço.

Começando pela distância, Lewis lutou o tempo todo na longa distância, o que fazia com ele, quando tomava a iniciativa, tivesse que avançar e encurtar para a média distância e então entra no raio de ação de Hunt, mas é aí que morava o perigo.

Todo esse tempo que Lewis levava para chegar no momento de conectar o golpe em Hunt durava uma eternidade para o neozelandês. Hunt é um striker de elite para os parâmetros dos pesos pesados e já venceu gente do calibre de Mike Bernardo, Stefan Leko e Jérôme Le Banner no K-1, não é qualquer um que consegue bater esse sujeito na trocação. Júnior Cigano, o melhor boxeador da história dos pesos pesados do UFC, teve trabalho para nocautear o neozelandês, e Stipe Miocic e Alistair Overeem tiveram que adaptar seus estilos de luta para saírem vitoriosos contra Hunt, e Lewis não tem a técnica de Cigano e não se adaptou como Miocic e Overeem para ter mais chances.

Essa atitude de Lewis fazia com que ele tivesse que entrar num jogo de timing com Hunt, jogo esse que ele sempre vai sair perdendo. Além de que, nesse tipo de luta, Hunt não vê problema nem nos quesitos negativos, já que ele consegue bater tão pesado quanto Lewis e ainda aguentar os seus golpes mais potentes.

Outro erro de Lewis foi não ter colocado nada de pressão durante a luta, isso fez com que Mark Hunt tivesse total controle do centro do octógono e fizesse a luta acontecer onde bem queria, podendo criar espaços e ângulos à vontade para conectar seus golpes. Para um striker como Hunt, isso é um baita de um presente.

Um dos pontos positivos de Derrick Lewis foi ter trabalhado bem os chutes, que eram aplicados em níveis diferentes, principalmente com low kicks e high licks.

1) No início do segundo round, a luta estava na longa distância (A), com Lewis recuando (B) e Hunt avançando (C) aos poucos.

2) Então, Lewis para de recuar e começar a avançar (A) – ainda na longa distância (B) -, dando uma passada para a frente para ajustar o corpo e poder aplicar o chute (C), enquanto Hunt parava de avançar e começava o movimento de recuar (D).

3) Por fim, agora praticamente na média distância (A), Lewis consegue aplicar um belo chute alto na cabeça de Hunt (B), golpe que é consideravelmente impressionante levando em conta o tamanho do sujeito.

Com o passar dos dois primeiros rounds, Lewis percebeu que estava sofrendo muito ao ceder o controle do centro do octógono e começou a tentar uma mudança de estratégia, circulando com passadas laterais na tentativa de sair da grade, mas Hunt cortava o octógono e fazia com que Lewis ficasse sempre na mesma situação, apesar de em lugares diferentes.

Com essa mudança de comportamento de Derrick Lewis, Hunt viu ele abrindo outros brechas e rapidamente começou a explorá-las. Hunt ia cercando e encurralando Lewis contra a grade e trabalhava bastante os cruzados, além de começar uma inteligente variação de diretos de direita e cruzados de esquerda no corpo.

Após três rounds e meio acontecendo todos os fatores explicados aqui neste artigo, a capacidade de absorção de golpes de Lewis diminuiu drasticamente e Hunt começou a crescer ainda mais durante alguns segundos, com suas clássicas combinações de golpes curtos, porém absurdamente potentes, e conseguiu nocautear o gigante adversário em pé.

Lewis e sua equipe se equivocaram na estratégia e na aplicação do plano tático na luta. Apesar de não ser, nem de longe, o melhor lutador do mundo, Mark Hunt é um sujeito diferenciado e não é fazendo o de sempre que será derrotado na trocação.

Com a vitória, Hunt volta a corrida pelo cinturão, mas é como se tivesse acabado de largar, ainda tem muitos atletas na sua frente. Derrick Lewis, que estava no melhor momento da carreira, vai precisar se recuperar antes da derrota e conseguir outra boa sequência se quiser figurar entre os cinco melhores do mundo.

 

Resultados oficiais do evento:

Mark Hunt def. Derrick Lewis via fourth-round TKO (3:51)

Derek Brunson def. Dan Kelly via first-round TKO (1:16)

Dan Hooker def. Ross Pearson via second-round KO (3:02)

Ion Cutelaba def. Henrique da Silva via first-round KO (0:22)

Ben Nguyen def. Tim Elliott via submission (rear-naked choke) (R1, 0:49)

Alexander Volkanovksi def. MIzuto Hirota via unanimous decision (30-27 x3)

Vinc Pichel def. Damien Brown via first-round KO (3:37)

Luke Jumeau def. Dominique Steele via unanimous decision (29-28 x3)

John Moraga def. Ashkan Mokhtarian via unanimous decision (30-25, 30-27 x2)

Zak Ottow def. Kiichi Kunimotovia via split decision (29-28, 28-29, 29-28)

JJ Aldrich def. Chan-Mi Jeon via unanimous decision (30-27 x3)



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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