Análise – Leitura técnica e tática do UFC FN 113: Nelson vs. Ponzinibbio

Kaue Macedo analisa a luta entre Santiago Ponzinibbio e Gunnar Nelson
Foto: Esther Lin/MMAFighting.com

No último domingo, um confronto entre lutadores de estilos bem diferentes abrilhantou nossa tarde de domingo, ainda que por pouco mais de um minuto. Santiago Ponzinibbio, conhecido pelo Brasil como o argentino gente boa, colheu frutos de sua incrível evolução ao conseguir a maior vitória de sua carreira, nocauteando o talentosíssimo Gunnar Nelson, o maior expoente da Islândia nas artes marciais.

Não costumo escrever análises curtas aqui no site, tem até quem reclame disso, mas hoje não tem jeito, a luta durou menos de um minuto e meio, mas olhando de forma proporcional para a duração do combate, o tamanho está nos padrões do site.



Gunnar Nelson começou lutando na sua clássica base oriunda do Karate Goju-ryu, arte marcial na qual é faixa preta, um estilo não incomum na hoje prestigiada SBG Ireland, liderada pela grande John Kavanagh, vencedor de dois World MMA Awards’ Coach of the Year e o primeiro irlandês a receber uma faixa preta de jiu-jitsu brasileiro. Essa postura do islandês, desde as pernas mais abertas até a guarda baixa, lhe dá uma vantagem muito grande no balanço e equilíbrio de seu corpo, apesar de se abrir defensivamente, tendo que usar contragolpes para suprir isso.

Gunni não fazia questão de controlar o centro do octógono e aproveitava muito mais área do octógono do que um pressure-fighter ou brawler costuma fazer, além de ir tentando manter a luta da média para a longa distância.

Santiago Ponzinibbio, o argentino gente boa, teve sua base moldada em fortes equipes nacionais como Team Tavares e Team Nogueira, e hoje treina na renomada American Top Team, em Coconut Creek, na Flórida. A mudança trouxe uma evolução impressionante para o jogo de Santiago, que hoje tem um muay thai bem mais técnico, mas sem desperdiçar sua agressividade, e isso foi fundamental para o resultado da luta no último domingo.

Ao contrário do adversário, Ponzinibbio gosta e procura ter o controle do centro do cage, mas, diferente da maioria que sempre faz isso com movimentação linear para frente/direção do adversário, o argentino trabalha muito mais a movimentação lateral, com finalidades que vão muito além desse controle, principalmente defensivas, que contra um talento como Gunnar Nelson, é imprescindível.

Perto do vigésimo segundo* e do final do primeiro minuto de luta, pudemos ver, ainda que com poucos exemplos, a interessantíssima forma que Gunnar Nelson ataca na trocação. Ele é muito imprevisível e tem uma precisão impressionante nos golpes, que são aplicados com bela pressão e timing.

A situação no outro corner era bem diferente, a trocação de Ponzinibbio não tem a beleza, utilizando a definição de Roger Scruton, da de Gunnar Nelson, mas também é muito eficiente e de um alto nível técnico. Como pudemos ver quando mostrou, sua trocação se baseia muito mais em golpes contundentes, aplicados com sua clássica agressividade que vem desde os tempos que lutava no judiado MMA nacional, e foi exatamente dessa forma que ele encerrou o combate.

Em um momento em que Gunnar avançou para a curta distância, área em que o argentino tem vantagem, Santiago encontrou, de forma brilhante, um ângulo por dentro que o possibilitou conectar um contragolpe de direita fatal, que deixou o adversário completamente atordoado. De forma impressionante, Nelson ainda conseguiu defender três dos quatro golpes que Ponzinibbio desferiu em pé, mas o último, um simples jab, aplicado com um potencia assustadora, mandou o islandês a nocaute. O ground and pound foi completamente desnecessário, os três ou quatro golpes que Gunnar Nelson recebeu no chão vão para a conta do juiz Leon Roberts.

Considerando que Gunnar tem um percentual de defesa de golpes de 51% e que Ponzinibbio tem um poder de nocaute alto, esse resultado, apesar de definitivamente não ser o mais provável, não é uma surpresa muito grande. Ter acabado em 1:22 sim, foi uma surpresa.

 Admiro muito a atitude do Gunnar Nelson de não querer cortar muito peso e se manter na divisão dos meio-médios. Adoraria que outros lutadores tomassem a mesma atitude, faria um bem inacreditável para as suas saúdes, mas categorias de peso existem por uma razão, e essa razão foi um dos motivos de Gunnar Nelson ter sido nocauteado brutalmente no último domingo.

Com a vitória, Santiago Ponzinibbio deve ficar entre os dez primeiros no ranking dos meio-médios do UFC. Ele pode tentar pescar alguém bem acima no ranking como Neil Magny, mas eu o escalaria para enfrentar o Colby Covington, nono colocado no ranking. Um argentino gente boa enfrentando um americano marrento, não tem como dar errado.

Já Gunnar Nelson deve cair algumas posições e, quem sabe, até sair do top 10. Pouco abaixo dele está o veterano Dong Hyun Kim, em décimo primeiro, com o qual adoraria ver o islandês lutar.

* segundo no sentido de unidade de medida de tempo



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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