Análises, Resultados e Bônus – A Leitura do UFC 210: Cormier vs. Johnson 2

Kauê Macedo analisa os destaques do UFC 210
(Foto: MMAFighting.com)

Desde que o MMA se tornou legal em Nova Iorque, o último estado americano a aceitar o esporte, o UFC tem feito vários eventos por lá. Dessa foi a cidade de Buffalo que recebeu o Ultimate, que não recebia o evento há 22 anos. O UFC 210 contou com lutas, no mínimo, interessantes, como a disputa de cinturão entre Daniel Cormier e Anthony Johnson, e o polêmico combate entre o ex-campeão do UFC Chris Weidman e o ex-campeão do Strikeforce Gegard Mousasi.

(Foto: MMAFighting.com)

Nos meus artigos, sempre bato na tecla da importância da estratégia e do QI de luta em qualquer nível do esporte. Esse pensamento deveria ser unanimidade entre os lutadores e obrigação dos treinadores, mas parece que Anthony Johnson e sua equipe ignoraram completamente esse fator e desenvolveram um gameplan terrível.



Ao contrário do maior nocauteador que a divisão já viu, Daniel Cormier foi extremamente inteligente, soube se aproveitar até mesmo daquilo que era desvantajoso na pontuação e tirou proveito de uma das únicas brechas claras que Anthony Johnson deu durante a luta para encerrar o combate.

Anthony Johnson começou a luta bem, colocando pressão na trocação, controlando o centro do cage, deixando Cormier acuado contra a grade e mantendo a luta na média distância. Era exatamente isso o que ele tinha que fazer durante todo o combate, já que, apesar de ser oriundo do wrestling, Johnson tem seu ponto forte na trocação, principalmente no poder de nocaute sobrenatural.

Apesar do bom início, logo a estranha estratégia de Rumble deu as caras. Anthony Johnson encurtou a distância e começou a trabalhar a luta agarrada, principalmente no jogo de grade. Ele controlou DC no clinch durante um bom tempo e, surpreendentemente, até conseguiu uma queda, que serviu para ajudar na pontuação, mas não no progresso de seus planos.

Daniel Cormier também teve seus momentos no round, que acabaram sendo muito parecidos que o do adversário. O melhor que DC ofereceu no primeiro round foi, da mesma forma que Anthony, clinch e jogo de grade. A diferença foi que Cormier fez isso com muito mais eficiência, afinal, é o wrestler mais técnico da divisão, talvez o melhor peso por peso na área.

Anthony conseguiu se destacar ainda mais no primeiro round e garantir um 10-9 logo após a separação do clinch por parte do juiz. Quando voltou a trocação, Rumble novamente mostrou que seu ponto forte (que foi pouco explorado), ainda mais contra DC, era na trocação, e conseguiu conectar bons socos e, principalmente, um chute alto muito forte e preciso, que foi seguido de outro que passou de raspão. Foram os golpes mais contundentes da luta.

Cormier voltou para o segundo round com o nariz torto, provavelmente estava quebrado. Anthony Johnson, logo que viu o dano no adversário, tentou capitalizar em cima da desvantagem do campeão e direcionou a maioria de seus socos naquela região, além de mesclar isso com chutes frontais, principalmente em direção ao corpo. Mas, novamente, isso foi apenas uma ilusão para quem achou que Rumble tinha percebido o erro que estava cometendo.

O desafiante voltou a investir na luta agarrada contra o antigo capitão da seleção olímpica de wrestling dos Estados Unidos. Apesar de ter conseguido a queda, começou, como já era de se esperar, a dar tudo errado para Anthony Johnson. Rumble até conseguiu outra queda, mas Daniel é tão bom na luta agarrada que ele simplesmente não se importa em ser quedado, pois sabe que conseguirá levantar logo em seguida, que foi exatamente o que aconteceu.

Não demorou muito até que o altíssimo nível técnico de Cormier no wrestling desses as caras. Ele entrou com um single leg perfeito em quase todos os aspectos, como encurtar a distância, entrar no timing certo, utilizar a técnica perfeita, não perder a posição e concluir o objetivo, tudo isso de forma imprevisível.

Ao concluir a queda, Anthony Johnson não caiu de costas para o chão e deu uma brecha gigantesca para Cormier pegar suas costas, que foi exatamente o que o campeão fez. A paciência e o controle posicional por cima na luta de solo foram fundamentais para a vitória de Cormier, que manteve o desafiante com pouquíssimas opções para escapar da posição.

Daniel Cormier foi controlando o braço do adversário, mantendo sempre pelo menos um dos ganchos para garantir a posição e foi trabalhando o ground and pound de forma crescente, tanto no volume quanto na contundência. O sistema defensivo de Anthony Johnson na luta agarrada se mostrou novamente deficitário e foi questão de tempo até que ele deixasse seu pescoço exposto.

O campeão tinha apenas um gancho no quadril do adversário para manter a pegada nas costas e, mesmo assim, Anthony não conseguiu fazer nada. Quando Cormier encaixou o mata-leão no pescoço de Rumble, todo o que o maior nocauteador da categoria fez foi esperar o oxigênio presente em seu cérebro pedir a conta e bater em desistência, nem sequer tentou separar as mãos do campeão.

Aula um de jiu-jitsu já é ensinado os fundamentos de uma defesa de estrangulamento, e nem isso Anthony Johnson foi capaz de fazer. Muita gente disse que, dessa vez, “a mão de Anthony Johnson entraria”, mas eles se esqueceram de que isso muito raramente acontece no mais alto nível do MMA.

Daniel Cormier vem mostrando, principalmente após vencer Alexander Gustafsson e Anthony Johnson (duas vezes), que é, em nível técnico, o segundo melhor meio-pesado que o mundo já viu. O primeiro, Jon Jones, que também é o melhor peso por peso da história e considerado por muitos o “campeão moral” da categoria, já está na fila para enfrentar o campeão. Caso demore muito, Jimi Manuwa vem logo atrás, mas esse pouco tem a oferecer a alguém do nível de Cormier.

 

Confira todos os resultados e bônus oficiais do UFC 210:

Daniel Cormier venceu Anthony Johnson por finalização aos 3m37s do R2

Gegard Mousasi venceu Chris Weidman por nocaute técnico aos 3m13s do R2

Cynthia Calvillo venceu Pearl Gonzalez por finalização aos 3m45s do R3

Thiago Pitbull venceu Patrick Côté por decisão unânime (triplo 30-27)

Charles do Bronx venceu Will Brooks por finalização aos 2m30s do R1

Myles Jury venceu Mike de la Torre por nocaute técnico aos 3m30s do R1

Kamaru Usman venceu Sean Strickland por decisão unânime (30-27; 30-26; 30-26)

Shane Burgos venceu Charles Rosa por nocaute técnico a 1m59s do R3

Patrick Cummins venceu Jan Blachowicz por decisão majoritária (29-28; 29-28; 28-28)

Gregor Gillespie venceu Andrew Holbrook por nocaute técnico aos 21s do R1

Desmond Green venceu Josh Emmett por decisão dividida (28-29; 29-28; 30-27)

Katlyn Chookagian venceu Irene Aldana por decisão dividida (29-28; 28-29; 29-28)

Magomed Bibulatov venceu Jenel Lausa por decisão unânime (triplo 29-26)

Performance da noite: Charles Oliveira, Gregor Gillespie, Shane Burgos e Charles Rosa

 

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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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