Uma análise sobre boxe aplicado no MMA com os lutadores Matheus Nicolau e Roberto Corvo

Kauê Macedo entrevista Matheus Nicolau e Roberto Corvo sobre a aplicação do boxe no MMA
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No começo dos tempos no UFC, o boxe não se mostrou algo muito efetivo na hora de se provar contra outras modalidades. Demorou muito para o boxe se consolidar no MMA, bem mais do que o jiu-jitsu, wrestling e muay thay, mas conseguiu, e hoje é um dos elementos principais no arsenal ofensivo e no sistema defensivo de qualquer lutador de elite.

Quando pensamos no boxe nos primórdios do MMA, a primeira e mais significativa memória que vem à cabeça quando se fala disso é a derrota de Art Jimmerson, lutando com apenas uma luva, para Royce Gracie, o primeiro campeão da história do UFC, em novembro de 1993.

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Art Jimmerson não era um pugilista do mais alto nível, mas tinha uma experiência considerável no esporte, com um cartel profissional de 29 vitórias e 5 derrotas, com uma sequência de 15 vitórias consecutivas (segundo registro do BoxRec https://boxrec.com/en/boxer/2044).

Royce Gracie era um faixa-preta de jiu-jitsu, membro da gloriosa e memorável família Gracie, mas não era dos melhores na modalidade, nem dos mais fortes, sequer dos mais experientes. Entrou para lutar por escolha de Rorion Gracie, que, numa decisão inteligentíssima, preferiu colocar o mais fraco para mostrar a eficácia do jiu-jitsu e chamar mais atenção do público. A decisão foi tão acertada que hoje em dia, Royce Gracie, membro do Hall da Fama do UFC, é conhecido por todos no ramo das artes marciais, assim como sua família.

Apesar da superioridade de Royce na luta agarrada, o que chama atenção e contextualiza a menção do acontecimento no artigo, é o que aconteceu na luta agarrada. Com uma péssima técnica, baixa precisão e pouca potência nos golpes, Royce foi capaz de controlar a distância e as ações da luta com chutes frontais. Jimmerson, supostamente o melhor “socador” e o pugilista mais experiente do evento, não foi capaz de lidar com o brasileiro na trocação.

Anos mais tarde, o grande pugilista James Toney, campeão mundial em três categorias de peso diferentes, também tentou se arriscar no MMA, e foi massacrado por Randy Couture, campeão do UFC em duas categorias de peso diferentes.

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O processo de adaptação do boxe puro para o MMA foi árduo e vagaroso, mas, aos poucos, elementos importantes foram implementados pelos treinadores e cada vez mais vimos o nível técnico da trocação no MMA aumentando.

Um dos exemplos do sucesso do boxe no MMA é Holly Holm, que foi 19 vezes campeã mundial de boxe em três categorias de peso diferentes e campeã peso galo do UFC, destronando Ronda Rousey, a maior campeã da história da categoria, com o nocaute mais espetacular da história do MMA feminino.

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A parte técnica do boxe aplicado no MMA é algo que pode ser abordado em centenas, talvez milhares, de páginas, literalmente. Hoje, o objetivo é observar a forma como um lutador do UFC e um de seus treinadores analisam a aplicação da nobre arte no mais complexo dos esportes de combate.

O lutador é Matheus Nicolau, ranqueado como 12º melhor peso mosca do mundo no ranking oficial do UFC. O prospecto de 25 anos participou do The Ultimate Fighter: Brasil 4 e venceu todas as lutas que disputou no UFC, vencendo Bruno Rodrigues, o ex-desafiante ao cinturão John Moraga e Louis Smolka.

Matheus tem luta marcada para o próximo fim de semana, 28 de julho, no UFC on FOX 8. Ele integra o card preliminar do evento enfrentando Dustin Ortiz, atual número 9 no ranking do UFC.

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O treinador é Roberto Corvo, que também é lutador de MMA e tem um cartel profissional de 7 vitórias, 3 derrotas e 1 No Contest. Corvo faz parte do corner de Matheus em suas lutas e ajuda na preparação do boxe do lutador do UFC.

Corvo tem uma importância fundamental no interesse de Matheus Nicolau pelo boxe, ele o influenciou e ajudou desde o inicio de sua amizade, que começou há seis anos atrás na renomada equipe da Nova União.

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Abaixo, estão as perguntas que fiz para os dois atletas seguidas das respostas, seguindo sempre a ordem de Matheus Nicolau primeiro e Roberto Corvo em seguida.

1) Nos últimos anos, o peso galo e também o peso mosca passou por uma drástica transformação técnica na troca de campeões de Renan Barão para TJ Dillashaw. TJ veio com algo que apenas Dominick Cruz fazia com maestria, movimentação e trabalho de pernas com extrema intensidade e velocidade. Posteriormente, Cody Garbrandt fez o mesmo, assim como outros.

Essa movimentação e trabalho de pernas intenso mostraram-se muito eficazes, não é atoa que os três melhores do mundo no peso galo os tem como arma imprescindível em seu arsenal.

1.1) Seria isso uma tendência que toda a categoria incorporaria?

1.2) Lutadores como John Lineker estão fadados a extinção?

1.3) E como o Matheus lida com isso tecnicamente estando num meio-termo, sendo muito mais rápido que Lineker, mas sem se movimentar com tanta intensidade como Dillashaw ou Demetrious Johnson?

2) Atualmente no boxe, temos exemplos de lutadores espetaculares e inovadores que dominam o esporte, como Vasyl Lomachenko e Terence Crawford.

2.1) Vocês usam lutadores de outros esportes como referência e objeto de estudo?

2.2) Há algum aspecto que poderia ser incorporado no jogo do Matheus vindo especificamente do boxe puro?

2.3) E no MMA em geral, elementos do boxe poderiam (ou deveriam) ser adotados mais do que está sendo feito?

3) Como tem sido a preparação na parte do boxe do Matheus? Tem focado apenas no aprimoramento de seus pontos fortes ou haverão inovações que ainda não vimos em seu jogo?

Como tem acontecido nas últimas duas décadas, a cada ano que passa o nível técnico do MMA é aprimorado, novas técnicas são utilizadas e mais difícil é competir no esporte. Com o boxe aplicado no MMA, não é diferente. Ainda tem muito o que melhorar, mas o futuro nos aguarde com algo grandioso.

 



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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