8 anos sem o lendário Ryan Gracie

“Nascido malandro astucioso, corpo irrequieto, protetor, doce de leite na boca das meninas, desatador de elástico de calcinhas de mulher sabida, mão aberta, gastador irresponsável do seu e do...
Ryan Gracie

Ryan Gracie (Foto: Reprodução/Twitter)

“Nascido malandro astucioso, corpo irrequieto, protetor, doce de leite na boca das meninas, desatador de elástico de calcinhas de mulher sabida, mão aberta, gastador irresponsável do seu e do dinheiro dos amigos, e PhD em porradas dentro e fora dos ringues, eis que alguns puristas teimam em dizer ser questionável de conduta. Mas que na realidade trata-se de um anjo, anjo temível, mas um anjo…” ( Mestre Robson Gracie – Resumindo um pouco do que era Ryan Gracie, seu filho) 

O nascimento de uma lenda

Ryan Gracie nasceu em 14 de agosto 1974 , no Rio de Janeiro. Neto do mestre Carlos Gracie, sobrinho de Hélio Gracie, irmão de Ralph Gracie e Renzo Gracie, o “Fera” sem dúvidas, era diferenciado. Genioso, temperamental, mas também o mais carismático e generoso. Controverso? Talvez. Intenso? Com certeza.

Quando a vida de um homem se confunde com a lenda, nasce o mito

Ryan com alguns de seus pupilos (Foto: Acervo)

Ryan com alguns de seus pupilos (Foto: Acervo)

E assim Ryan Gracie cresceu no Rio de Janeiro, no berço da maior família de lutas, a família de lutadores Gracie, criadores do Gracie Jiu Jitsu. a técnica já era natural, mas o “Fera” tinha algumas outras combinações, um dos maiores talentos já vistos no mundo das lutas, com uma explosão física fora do comum, raçudo, muito forte fisicamente mas vale lembrar que seu coração era mais forte ainda. 

Chegada a São Paulo

Ryan já havia passado um tempo em São Paulo com o seu grande amigo, o lendário Marcelo Behring, mas foi depois que seu irmão Ralph Gracie montou a sua academia, Ryan, ainda faixa marrom, não tinha nem 17 anos, mas veio para ficar de vez em São Paulo. Para ajudar seu irmão, Ryan Gracie então partiu do Rio de Janeiro para São Paulo numa manhã com seu primeiro carro, um Escort XR3, que durou apenas essa viagem. Junto com Alexandre Soca, eles tiveram uma viagem “insana”, os pneus do carro furaram muitas vezes, já não tinham mais dinheiro para pagar os consertos. Então ele usou as roupas da marca do seu patrocinador para moeda de troca. Ryan queria parar pra descansar, já estava exausto, mas Alexandre Soca o convenceu a continuar, já que estavam próximos. Então eles fizeram um combinado: “Me acorde na curva”. Logicamente, isso não deu certo, até que Soca cochilou junto. Capotaram o carro ribanceira abaixo. A sua chegada a São Paulo então foi da forma que ninguém imaginou:  Na cegonha do guincho. 

Ryan Gracie Team – Gracie São Paulo

Ryan Gracie e sua equipe (Foto: O Globo)

Ryan Gracie e sua equipe (Foto: O Globo)

Junto com Daniel Gracie e Carlos Russo, criaram um verdadeiro exército. Depois que o seu irmão, Ralph Gracie, partiu para São Franscisco, Estados Unidos, ele ficou com a missão de representar a família na cidade. Missão essa que não era nada fácil. Os patriarcas da familia, Carlos e Hélio Gracie, antes de partirem para o Rio de Janeiro, já haviam se instalado em São Paulo, mas decidiram partir para o Rio de Janeiro, pois não tinha alcançado o sucesso esperado. Mas para o “Fera” , nada era impossivel. De fato, ele nasceu para esse feito e mais outros marcantes. Montou sua academia, formou muitos alunos. Um time muito forte. Tudo que disputava, despontava. Vale citar nomes dos multi campeões Gabriel Vella, Fabio Leopoldo, Thiago Vella, Ricardão Almeida “Cebola” e seu sucessor no comando do time: Celsinho Venicius. E também criou fama. Onde chegava, Ryan  era o centro das atenções. Muito antes do PRIDE, todos sabiam quem ele era.

Também foi protagonista da maior rivalidade da história do Jiu-Jitsu paulista com seu maior desafeto: Jorge Patino “Macaco”. A briga começou em uma boate paulista, devido a um desentendimento de Macaco com um dos alunos de Ryan em uma festa, uma semana antes. Macaco acabou comprando a briga e, nesse dia, estavam Marcelo Behring, que era amigo dos dois. Ryan cobrou essa briga, e eles chegaram as vias de fato. A partir daí, eles brigaram mais centenas de vezes. Nunca em evento algum. Os palcos foram campeonatos, restaurantes, boates e qualquer outro lugar do mundo que se encontrassem. E foi assim também no cenário do Jiu Jitsu, nos anos 90 principalmente. As duas equipes mais fortes de São Paulo, a rivalidade deles aumentava e, consequentemente, o time de ambos também crescia. Toda história de uma lenda tem um grande rival. E o dele, sem dúvidas, foi o Macaco. 




Outro que vale a pena citar é Wallid Ismaill, grande campeão do Jiu Jitsu e dos primórdios do Vale Tudo, faixa preta do seu tio, Carlson Gracie. Wallid foi um dos pioneiros do Jiu Jitsu esportivo, é verdade, mas também foi o primeiro “falastrão”. Pode-se dizer que usava isso para se promover. Wallid, escudeiro fiel do seu mestre Carlson Gracie, não partilhava do mesmo respeito com o restante da família. Em um campeonato de Jiu Jitsu, Wallid falou mais que a boca, e o “Fera”, com seu temperamento, partiu pra cima e meteu porrada. Eles se desafiaram várias vezes, mas nunca lutaram em evento nenhum.
 

No Jiu Jitsu esportivo, Ryan Gracie foi penta-campeão brasileiro, campeão pan-americano e de diversos outros eventos. Mas a sua missão era outra, com seu time já formado em São Paulo, ele precisava colocar seu nome na história mais uma vez. E foi aí então que, depois de muita insistência, convenceu seu irmão Renzo Gracie a prepará-lo para o maior evento de MMA do mundo, na época: O PRIDE . 

A ascensão meteórica no MMA – PRIDE

Ryan Gracie comprometeu-se a treinar muito e alcançou seu melhor nível técnico. Deixou de lado sua vida baladeira e encarou o compromisso com seriedade. O resultado não poderia ser outro. Ele combinou seu talento espetacular com dedicação. Ryan derrubou o Japão. Sua primeira luta no evento foi contra Tokimitsu Ishizawa, um dos maiores lutadores do wrestling japonês, e sua estréia não poderia ser mais avassaladora: Um nocaute, com toda sua fúria em socos. Desafiou então Kazushi Sakuraba, para honrar o nome da família. Ryan se machucou mas mesmo assim lutou o evento, perdeu na decisão dos juízes, mas mesmo assim ganhou mais admiração devido a seu espirito de guerreiro. Aceitou a revanche contra Ishizawa e lutou machucado outra vez, mas essa lesão era mais séria. A sua costela estava quebrada e o Ryan perdeu novamente. Seus momentos mais marcantes foram a vitória sobre Shungo Oyama, a qual vingou a derrota contestada do irmão e venceu com um arm lock, que é considerado um dos mais bonitos da história do MMA. Suas vitórias no PRIDE BUSHIDO também, que eram o desafio do  TEAM GRACIE X JAPÃO, no qual venceu a sua luta com um tiro de meta, e também deu a vitória ao time Gracie em outra oportunidade por decisão. 

Fera Indomável

Com sua ascensão, Ryan havia gravado seu nome na história. E com a glória, dinheiro, fama, mais festas, mais mulheres, a pressão no Gracie aumentava. Sua “válvula de escape” acabou sendo as drogas, combinados com álcool e remédios e um temperamento explosivo, gênio difícil e sua vida baladeira. E juntos com um coquetel feito por um médico, contratado para tranquiliza-lo, infelizmente culminaram na morte de um dos maiores talentos da história do mundo das lutas. Ele tentou diversas vezes se livrar dos vícios, a família ajudou, todos o amavam muito. O Gracie, de fato, era um conquistador. Seus fãs, sua família, sua equipe, ele marcou a vida de todos. Junto de um cara agressivo, explosivo e briguento, vivia uma criança, de coração enorme, disposto a ajudar a todos, que era muito carinhoso com aqueles que ele amava.  Em 2000, Ryan foi detido no Rio de Janeiro, e ficou 17 dias preso por uma briga em uma boate na qual um valentão apelidado de “Chuck Norris”, tentou esfaquear o “Fera” que o dominou e acabou ferindo-o com a faca. Ele provou sua inocência e foi liberado. Em 2005, Ryan voltou a ter problemas: Foi detido por policiais que o agrediram e ele revidou, agrediu os policiais e insultou uma delegada já na delegacia, mas foi liberado. Como todas as lendas, ele sempre dava um jeito para as situações e confusões mais inusitadas. Mas o fato é que ele estava doente, com depressão, síndrome do panico, ele estava cada vez mais incontrolável. Ele mesmo não tinha mais o domínio de si. E assim, no dia 14/12/2007, o “Fera” partiu em uma fuga alucinada do seu inimigo mais poderoso: Ele mesmo. Depois de partir em fuga e tentar roubar uma moto, foi contido, dominado e preso em flagrante. Ryan Gracie cravava desde criança que morreria aos 33 anos, mas para a história ele é imortal. O psiquiatra contratado pela família para ajudá-lo, fez o inverso e assim, com um ” coquetel molotov”, que misturado as drogas que o Gracie havia usado, pararam o coração mais forte dos guerreiros.
“O Segredo da Imortalidade é viver uma vida da qual vale a pena ser lembrada.” – Saint Exupery
Por isso o “Fera” é eterno. Seu trabalho foi continuado por seus alunos, e hoje a Ryan Gracie figura de volta no cenário principal do Jiu Jitsu. Nós sempre lembraremos de você, e sempre lutaremos pela sua honra grande Mestre.

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Escrito por: Alvaro Luiz
Editado e revisado por: Lucas Costa


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