Análise, Resultados e Bônus – A Leitura do UFC 212: Aldo vs. Holloway

  Na madrugada do último domingo, o maior peso pena de todos os tempos foi destronado pela segunda vez do posto mais alto da categoria. Max Holloway, a maior...
José Aldo após a derrota (Foto: Esther Lin/MMAFighting.com)

José Aldo após a derrota (Foto: Esther Lin/MMAFighting.com)

 

Na madrugada do último domingo, o maior peso pena de todos os tempos foi destronado pela segunda vez do posto mais alto da categoria. Max Holloway, a maior promessa da categoria, conseguiu o maior feito de sua carreira ao nocautear José Aldo, que lutava em casa, na Jeunesse Arena, antiga HSBC Arena, no Rio de Janeiro, ainda no terceiro round.



O que Max Holloway fez a José Aldo jamais foi visto antes, o novo campeão foi taticamente impecável a partir do segundo round e mostrou que, assim como quando Cody Garbrandt venceu Dominick Cruz, a nova geração veio para tomar conta. Hoje, analisaremos as partes técnicas e táticas mais importantes da luta mais relevante da divisão no ano de 2017.

Pode-se dividir a luta em duas partes, o primeiro round e os outros dois, devido tamanha diferença que ocorreu na transição de um para o outros.

Durante toda a luta, José Aldo usou sua tática padrão na trocação, com pouco footwork enquanto não estava atacando nem sendo atacado, lutando na média distância, usando muitas fintas (principalmente com o braço esquerdo), trabalhando o head movement o tempo inteiro, e não se abrindo muito.

Holloway não começou tão bem quanto poderia, mas ia usando bastante o footwork com passadas laterais para ambos os lados, trabalhando mudanças de direção, que permitia-o, a princípio, atuar como um out-boxer/fighter.

Nas primeiras investidas do campeão interino, José Aldo foi muito bem em fazer a manutenção de distância e poder ficar fora do raio de ação de Max Holloway.

1) A luta está na média distância (A).

2) Dessa distância (A), Max Holloway avança para tentar encurtar (B) e José Aldo recua rapidamente para tentar manter a luta onde está (C).

3) Holloway continua avançando (A) e Aldo recuando (B), Holloway entra com um jab na altura do plexo e vai preparando um golpe com a mão direita (C), enquanto Aldo tenta manter o adversário longe esticando o braço da frente na base de destro (D), enquanto a luta chegava da média para a curta distância (E).

4) Holloway continua avançando (A), posiciona bem as pernas (B) e entra com um direto de direita (C), que acaba perdendo sua potência por mudar de direção de última hora, devido a mudança de direção da movimentação de Aldo (D), que, assim como Jon Jones, esticou o braço da frente para atrapalhar a investida do adversário (E), mantendo a luta na média distância (F).

5) Com isso, Aldo escapa da tentativa ofensiva de Holloway e volta a luta para uma distância mais confortável defensivamente.

Variações da mesma situação aconteceram algumas outras vezes durante o round, com uma margem pequeno de mais bem ou pior executada.

Aldo ia esperando e procurando por brechas para que pudesse entra com sua clássica combinação de jab e direto, que são aplicados numa velocidade e potência absurdas e já mandaram até Chad Mendes a knockdown. Foi uma variação dela que abriu caminho para o melhor momento de José Aldo na luta.

1) Tudo começou num momento em que a luta saia da longa e entrava na média distância.

2) Com uma passada rápida para a frente (A), Aldo coloca a luta da média para a curta distância (B) e entra com um cruzado de esquerda extremamente veloz (C).

3) O reflexo de Holloway foi defender a têmpora/lateral da cabeça (A), mas o cruzado de Aldo explode na parte frontal de seu rosto (B), deixando-o atordoado.

4) É aqui que a variação aparece. Mantendo a luta na mesma distância (A), Aldo vai avançando (B) enquanto Holloway tenta recuar (C). O campeão posiciona as pernas muito bem (D) e entra com um belo direto de direita (E), que acerta em cheio o rosto do havaiano.

O resto da sequência foi aplicado, majoritariamente, com golpes longos e retos muito velozes e extremamente contundentes. Isso contribuiu muito para a pontuação a favor do brasileiro no primeiro round.

Uma das armas mais perigosas de José Aldo sempre foi os low kicks (Urijah Faber que o diga). Curiosamente, Jeremy Stephens, Cub Swanson e Anthony Pettis trabalharam bastante esse golpe contra Max Holloway, mas o havaiano se adaptou melhor para essa luta nesse aspecto. Holloway pesava mais o corpo na perna da frente, dobrando seu joelho e ficando numa postura bem difícil de bloquear os chutes, mas isso o permitiu contragolpear com as mãos. Estratégia perigosa, levando em conta o dano que os chutes do brasileiro causam, mas ela deu perfeitamente certo.

1) A luta estava no centro do octógono e da média para a curta distância (A).

2) Aldo entra com seu low kick assustador (A), e Holloway crava sua base no chão, deixando todo o peso na perna da frente (B).

3) Holloway absorve o golpe e contragolpeia com um direto de direita muito rápido, que pegou José Aldo da pior forma possível, voltando do golpe e com apenas uma perna no chão.

 

A partir do segundo round, a luta se transformou completamente. José Aldo, que trabalhava muito bem os contragolpes quando o adversário invadia seu raio de ação, não conseguiu mais trabalhar seu jogo. Holloway, que tinha pouca velocidade, timing, volume de golpes, movimentação eficiente e pressão, mostrou uma capacidade de adaptação impressionante e parecia ter se tornado outro lutador comparado com o do primeiro round.

Holloway fez de sua movimentação, que até então só estava funcionando para não ser massacrado por José Aldo na trocação, uma arma importantíssima de seu arsenal ofensivo, utilizando toda a área do octógono para trabalhar suas passadas laterais, com constantes mudanças de direção, e começando a entrar e sair do raio de ação do brasileiro com maestria.

Do segundo para o terceiro round, Holloway só evoluiu o que estava fazendo, e Aldo pouco teve a oferecer em troca. O volume de golpes de Holloway, que estava baixo no primeiro round, cresceu bastante, e a pressão pouco efetiva se tornou um pesadelo para o campeão linear. Os low kicks de José Aldo são uma das melhores armas do brasileiro, mas foi muito estranho, apesar do antijogo que Holloway preparou para isso (como foi explicado anteriormente), ele não ter tentando usar mais nenhuma vez. Outra coisa curiosa foi o fato de Aldo não tentar quedar nenhuma vez, já que era no chão onde existia a maior vantagem técnica de um atleta para o outro na luta.

As combinações do havaiano começaram a conectar em José Aldo como nunca antes aconteceu, com sequências de três a cinco golpes, variando corpo e cabeça, mesclando golpes longos e retos com golpes circulares, como aconteceu no momento do knockdown, quando Max Holloway conectou uma sequência de dois diretos e dois cruzados que atravessaram a guarda do brasileiro, que sempre teve um sistema defensivo muito eficaz, e o levou ao chão.

Após o knockdown, Holloway foi extremamente inteligente. O campeão interino evitou a todo custo ficar na guarda do brasileiro e sempre buscava fazer transições para avançar posições, isso enquanto trabalhava um ground and pound agressivo, com bastante potência e em alto volume. Ficou muito claro o quão atordoado o brasileiro estava nos breves momentos que tinha para sair de baixo do adversário e nem sequer conseguia reagir. A luta chegou ao ponto em que Aldo não respondia mais aos ataques de Holloway e o árbitro Big John McCarthy encerrou, corretamente, o combate.

Antes de pensar que José Aldo está em decadência por causa das duas derrotas por nocaute ou que a vitória de Max Holloway foi uma zebra, é importante lembrar que o brasileiro teve uma performance impecável contra Frankie Edgar, um dos melhores atletas do planeta, alguns meses atrás, e que o atual campeão é o dono da quinta maior sequência de vitórias da história do UFC.

Resultados e bônus oficiais do UFC 212:

Max Holloway venceu José Aldo por nocaute técnico aos 4m13s do R3

Cláudia Gadelha venceu Karolina Kowalkiewicz por finalização aos 3m03s do R1

Vitor Belfort venceu Nate Marquardt por decisão unânime (triplo 29-28)

Paulo Borrachinha venceu Oluwale Bamgbose por nocaute técnico a 1m06s do R2

Yancy Medeiros venceu Erick Silva por nocaute técnico aos 2m01s do R2

Raphael Assunção venceu Marlon Moraes por decisão dividida (29-28, 28-29 e 30-27)

Antônio Cara de Sapato venceu Eric Spicely por finalização aos 3m49s do R2

Mathew Lopez venceu Johnny Eduardo por nocaute técnico aos 2m57s do R1

Brian Kelleher venceu Iuri Marajó por finalização a 1m48s do R1

Viviane Sucuri venceu Jamie Moyle por decisão unânime (29-28, 30-27 e 30-27)

Luan Chagas venceu Jim Wallhead por finalização aos 4m48s do R2         

Deiveson Alcântara venceu Marco Beltrán por nocaute técnico aos 5m do R2

Luta da noite: Max Holloway x José Aldo

Performances da noite: Cláudia Gadelha e Brian Kelleher



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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