Análises, resultados e bônus – A leitura do UFC 209: Woodley vs. Thompson 2

Kauê Macedo analisa os destaques do UFC 209
Foto: MMAFighting.com

Las Vegas, a cidade que mais sediou eventos do UFC em toda a história, recebeu mais um card de PPV com lutas interessante desde o card preliminar, com as reviravoltas insanas de Iuri Marajó e Darren Elkins, até o card principal, com a excelente luta entre David Teymur e Lando Vannata, e o duelo (es)tático entre Tyron Woodley e Stephen Thompson.

 



Tyron Woodley x Stephen Thompson – Cinturão peso meio-médio do UFC

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A divisão dos pesos meio-médios teve sua luta mais monótona dos últimos quatro anos com o main-event do UFC 209. Tyron Woodley e Stephen Thompson, que fizeram uma luta épica no UFC 205, travaram uma guerra muito mais tática do que física, o que deixou muitos fãs desapontados. Eu fiz parte da minoria que gostou da luta, mas, independente disso, a análise a seguir, como sempre, está totalmente imparcial e deixa de lado esse ponto negativo do combate.

Os primeiros cinco minutos foram de muito estudo, com pouco volume e muita leitura tática por parte dos lutadores. Stephen Wonderboy controlou as ações durante todo o round, controlando o centro do octógono e deixando Woodley bem próximo da grade, mantendo a luta da média pra longa distância e trabalha muito bem os chutes laterais no corpo e os chutes altos na cabeça. O único momento em que Woodley ofereceu alguma resposta foi ainda na primeira metade do round, quando encurtou a distância da média/longa para a média/curta e entrou com uma combinação curta e potente, uma de suas especialidades na trocação. 10-9 claro para o desafiante.

Após o final do primeiro round, os treinadores de Tyron Woodley disseram para o campeão parar de esperar tanto e tomar a iniciativa, buscando mais a luta. Isso, de certa forma, apareceu logo no início do segundo, com Tyron Woodley tentando disputar o controle do cage e aumento o nível de seu volume de golpes.

Woodley começou a trabalhar mais os socos, principalmente o direto de direita, em direção ao corpo do desafiante. Apesar de não ser tão vantajoso em aspetos físicos, levando em conta o poder de nocaute do campeão e o tanto de vezes que ele atordoou o adversário na primeira luta, Woodley direcionava muito mais seus golpes para o corpo do adversário porque Thompson é muito mais alto, luta na longa distância, tem uma movimentação de cabeça muito boa e aplica contragolpes mortais quando seus adversários lançam golpes em direção a sua cabeça. Trabalhando os golpes no corpo, Woodley anula boa parte dessa vantagem defensiva que Thompson tem, porque os golpes no corpo são mais fáceis de serem conectados, já que para desviar precisa mover todo o tronco e não só a cabeça, e dificulta a vida do desafiante na hora de contragolpear.

Na segunda metade do segundo round, Woodley também trabalhou os golpes no corpo e conectou um lindo overhand de direita no rosto de Wonderboy, que teve um sangramento logo em seguida. Fora isso, o round foi novamente dominado por Thompson (não tanto quanto o primeiro), que controlou o local onde a luta se desenrolava, a distância em que os atletas atuavam e teve um volume de golpes maior. Stephen também trabalhou muito mais as combinações com as mãos nesse round, além, é claro, de seus clássicos front leg side kick, que são um dos mais técnicos em todo o esporte. Mais um 10-9 para Stephen Thompson.

O terceiro round foi drasticamente diferente dos outros dois. Podemos dividir ele em duas partes, que curiosamente dão praticamente metades iguais em questão de tempos.

Na primeira metade, Woodley fez o que ele deveria ter feito em todos os rounds dessa e da primeira luta, levar a luta para o chão. Woodley é oriundo do wrestling, enquanto Thompson é oriundo do kickboxing, e as quedas de Woodley são melhores do que a defesa de quedas de Thompson, o que torna tudo mais claro. Apesar disso, outros fatores pesam muito para definir onde a luta vai se desenrolar.

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A movimentação, postura, base e distância que Thompson luta dificulta muito para qualquer wrestler entrar em queda, porque muitos aspectos ficam diferentes, como tempo de entrada, postura na hora de quedar, o tipo de queda que escolher e tudo mais. A base e a postura com que Thompson luta é totalmente lateral, deixando as pernas paralelas umas as outras, o que faz com que seus adversários só possam quedar a partir de um single-leg, limitando e muito o arsenal de um bom wrestler como Tyron Woodley.

Mesmo assim, o campeão, inteligentemente, investiu nesse golpe e o aplicou no início do terceiro round. Thompson defendeu bem o single, mas Woodley o empurrou até a grade, onde pode mudar para um double-leg (já que é impossível para Thompson manter a base e a postura com as costas na grade) e conseguir leva-lo para o chão.

No solo, Woodley foi fantástico e fez um ótimo trabalho, mantendo um controle posicional muito efetivo, travando a perna esquerda de Thompson na meia-guarda e prendendo o braço direito por baixo do corpo do desafiante, deixando bastante espaço para trabalhar o ground and pound com o braço esquerdo. Os golpes não tinham muita potencia devido à posição não muito favorável para ground and pound, mas tiveram um bom volume e foi muito importante para a pontuação do round.

Na segunda metade do terceiro round, Thompson conseguiu se safar do aterrorizante jogo de solo e voltou para a luta em pé. A partir daí, o desafiante voltou a controlar as ações na trocação e levou vantagem até o sinal do final do round, mas não foi suficiente para virar. 10-9 para Tyron Woodley.

O quarto round não foi bom para Tyron Woodley, que precisava vencer para ter alguma chance na decisão, mas é claro que os juízes cagariam tudo no final. Stephen Thompson foi muito frio e calculista, controlando todos os aspectos possíveis da luta e aplicando uma aula de trocação, mostrando um nível técnico absurdo e uma obediência tática invejável para muitos campeões.

Além disso, foi nesse round que Wonderboy aplicou os dois golpes mais contundentes da luta até então. O primeiro foi um chute rodado muito forte, ridiculamente rápido e absurdamente imprevisível, que explodiu com o calcanhar na cabeça do campeão. O segundo foi mais um chute alto, também muito rápido e imprevisível, que também explodiu na cabeça de Woodley. Outro 10-9 para Wonderboy.

O quinto round foi basicamente o único que deu alguma emoção para o fã média (e até para alguns hardcores). Woodley sabia que estava em desvantagem na luta, coisa que os juízes não perceberam, e começou a colocar muita pressão no início do round. Obviamente que Thompson conseguiu se defender durante boa parte do tempo e, depois do momento de pressão do campeão, voltou a lutar de igual para igual.

Foi apenas nos segundos finais da luta que o senso de urgência casou com o arsenal ofensivo de Woodley, que conseguiu conectar uma boa combinação e mandou Thompson a knockdown. O golpe que derrubou o desafiante foi seguido de uma sequência brutal de golpes e mais golpes, que o mandaram novamente a knockdown. Apesar do final emocionante, Wonderboy conseguiu sobreviver até o final do round, que perdeu por 10-9.

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Somando as pontuações que marquei, a luta ficou 48-47 para Stephen Thompson. É aceitável dizer que foi 47-47, apesar de eu discordar, mas 48-47 para Tyron Woodley não está certo. Como já estamos acostumados, o juízes marcaram pontuações bizarras, como dois 48-47 para o campeão, além de um aceitável 47-47.

 

Alistair Overeem x Mark Hunt

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O UFC casou uma luta bem interessante ao colocar Alistair Overeem de frente com Mark Hunt. Essa luta basicamente reúne o melhor e mais técnico trocador da categoria contra o maior nocauteador da divisão, e as bolsas de apostas mostraram que essa não era uma luta fácil para nenhum dos dois.

No primeiro round, Mark Hunt trabalhou alguns low kicks com potência absurda, além de encaixar um ou dois golpes de direitas bem contundentes, mas foi Alistair Overeem quem conseguiu controlar as ações durante os primeiros cinco minutos.

O holandês fez boa manutenção de distância, mantendo a luta da média para a longa, efazendo com que Hunt ficasse fora do seu raio de ação e anulasse parte considerável do perigo de trocar em pé com o Super Samoano. Isso possibilitava que Overeem tivesse ainda mais vantagem com sua altura e envergadura, principalmente ao adotar a estratégia de trabalhar os oblique kicks no joelho da perna dianteira de Hunt e os chutes frontais no corpo do neozelandês.

Overeem acertou bem mais que o dobro de golpes significativos no primeiro round (24 contra 9) e teve uma precisão absurdamente alta, conectando 75% dos golpes lançados, enquanto Hunt acertou apenas 34%, e isso é autoexplicativo se você entendeu a parte tática do parágrafo acima. 10-9 para Alistair Overeem no primeiro round.

O segundo round pode ser dividido em duas partes.

Na primeira metade do round, Overeem foi soberano. Mark Hunt parecia muito cansado e Alistair capitalizou em cima disso, trabalhando chutes no corpo e combinações com as mãos na cabeça, além de trabalhar o clinch de forma muito eficiente, prendendo Hunt contra a grade e trabalhando joelhadas no corpo e na cabeça de forma muito contundente.

Na segunda metade, Overeem ainda foi melhor no geral, principalmente ao controlar a luta no clinch, mas Mark Hunt conectou pelo menos três golpes muito fortes, incluindo duas cotoveladas lindas e precisas, que claramente atordoaram Overeem. Apesar do maior pegador da categoria atordoar um atleta que não é conhecido pela eficiência na absorção de golpes, Overeem sobreviveu e não chegou a ir a knockdown em nenhum momento, tendo, inclusive, levado vantagem na pontuação final do round. Outro 10-9 para Alistair Overeem.

O terceiro round não durou muito. Os dois atletas trocaram durante algum tempo na trocação, mas logo Overeem conseguiu encurtar a distância e clinchar, levando Hunt até a grade. Alistair trabalhou um pouco na luta agarrada até encontrar uma brecha para conectar duas joelhadas brutais no rosto de Hunt, que mandou o neozelandês a nocaute e o deixou no famoso estado de face plant.

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Independente de ser um nocauteador nato, na maioria das vezes alguém com nível técnico superior consegue se sobressair contra alguém com vantagens físicas, e foi exatamente o que aconteceu aqui nessa noite. Assim como foi contra Junior Cigano e Stipe Miocic, Mark Hunt teve dificuldades em enfrentar um trocador mais técnico e maior, e para piorar sua situação, Alistair Overeem é melhor na trocação do que os dois.

Overeem se firma novamente como um dos melhores do mundo na categoria e volta a ter uma sequência de vitórias, o que pode se estender nos próximos meses e colocar o holandês de volta na briga pelo cinturão.

 

Confira todos os resultados e bônus oficiais do UFC 209:

Tyron Woodley venceu Stephen Thompson por decisão majoritária (48-47, 47-47 e 48-47)

David Teymur venceu Lando Vannata por decisão unânime (30-27, 30-27 e 30-27)

Dan Kelly venceu Rashad Evans por decisão dividida (29-28, 28-29 e 29-28)

Cynthia Calvillo venceu Amanda Cooper por finalização aos 3m19s do R1

Alistair Overeem venceu Mark Hunt por nocaute aos 1m44s do R3

Marcin Tybura venceu Luis Henrique KLB por nocaute técnico aos 3m46s do R3

Darren Elkins venceu Mirsad Bektic por nocaute técnico aos 3m19s do R3

Iuri Marajó venceu Luke Sanders por finalização aos 3m13s do R2

Mark Godbeer venceu Daniel Spitz por decisão unânime (30-27, 30-27 e 30-27)

Tyson Pedro venceu Paul Craig por nocaute técnico aos 4m10s do R1

Albert Morales venceu Andre Soukhamthath por decisão dividida (29-28, 28-29 e 29-28)

Luta da noite: David Teymur x Lando Vannata

Performance da noite: Iuri Marajó e Darren Elkins



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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