Análises, resultados e bônus – A leitura do UFC Fight Night 95: Cyborg vs. Lansberg

Kauê Macedo analisa os principais combates do UFC FN 95
Foto: Reprodução

Na mesma cidade e no mesmo ano em que a ex-Presidente da República e o ex-Presidente da Câmara dos Deputados foram atropelados por votos a favor de suas cassações e impedimentos, a brasileira Cris Cyborg, maior lutadora peso por peso da atualidade, atropelou, com requintes de crueldade, a sueca Lina Länsberg, que fazia sua estreia na maior organização de MMA do mundo, no segundo round e não deixou duvidas de que não existe ninguém na categoria peso pena que pode vencê-la.

 Realizando um evento no Brasil pela 25ª vez em sua história, o Ultimate Fighting Championship trouxe a maior lutadora peso por peso do mundo para liderar o card do UFC Fight Night 95, que aconteceu em Brasília, o segundo evento realizado na cidade. Além da Cris, a presença de Renan Barão, Roy Nelson, Francisco Massaranduba e um exército de brasileiros levantou a torcida presente no ginásio Nilson Nelson, mesmo ginásio que sediou a conquista do terceiro título mundial de Eder Jofre, o maior peso galo da história do boxe.



Cortando a introdução, vamos ao que interessa.

Desde a derrota de Ronda Rousey, primeira campeã da história do UFC, para Holly Holm, Cris Cyborg assumiu o posto de maior lutador peso por peso do mundo e se manteve na posição até hoje, superando até mesmo os feitos incríveis de Joanna Jedrzejczyk, a campeã peso palha do UFC.

Cris Cyborg vinha de quatro nocautes no primeiro round consecutivos, três deles valendo o cinturão do Invicta FC e o outro em sua estreia no UFC. A brasileira era franca favorita para a luta, assim como seria contra qualquer peso pena do mundo, o que deixou muita gente surpresa do combate ter durado mais de sete minutos. Acredito que isso seja pelo fato dela ter insistido muito no clinch, que não é o ponto forte dela e deixa aberturas para que suas adversárias sobrevivam mais tempo, assim como foi contra Daria Ibragimova.

Cyborg teve total controle do clinch e teve o volume de golpes maior, acertando boas joelhadas no corpo e uma porção de socos curtos na cabeça, no total, foram conectados 31 de 38 golpes no clinch por parte da brasileira e 13 de 16 por parte da sueca. A única queda da luta foi de Cris, que teve 100% de aproveitamento no quesito. No solo, a brasileira teve ótimo controle posicional, passou bem a guarda quatro vezes e trabalhou o ground and pound, mas não da forma que queria.

Foi na trocação que Cris Cyborg se destacou, como sempre. Da média pra curta distância, ela solta combinações ferozes, com boa velocidade e potência assustadora, variando golpes rotos e cruzados, e foi só questão de tempo até que Lina Lansberg estivesse caída e ensanguenta.

Cristiane Justino, como é raramente chamada, está sentada no trono de suor e sangue do MMA feminino desde o final de 2015. Ela também está traçando sua caminhada para ser a melhor de todos os tempos, talvez já seja, mas ainda considero Ronda Rousey a maior, já que suas adversárias são MUITO melhores que as que a brasileira enfrentou. É uma história interessante e que ainda deve ter vários capítulos pela frente, só espero que ela volte ao seu peso natural, pois é ridículo o corte que ela fez para essas duas últimas lutas.

Renan Barão, que ao contrário de Cyborg não está se matando para cortar peso e decidiu nadar com tubarões maiores, conseguiu sua primeira vitória no peso pena. Após uma luta duríssima contra Jeremy Stephens, Renan Barão dominou o norte-americano e finalista do TUF 8 Phillipe Nover.

O primeiro round foi lá e cá, Phillipe Nover tentou impor seu jogo com alto volume de golpes, lançando um total de 41, mas acertando apenas 11 (26% de precisão). Renan Barão, por sua vez, mostrou superioridade ao lançar mais golpes (58), acertar mais (23) e ter bem mais precisão (39%). No segundo round, Renan voltou melhor ainda, com mais contundência, agressividade e criatividade, vencendo a luta em pé e no chão, área onde se destaca mais ainda da maioria dos lutadores da categoria, ainda mais quando a luta já está no solo. O Mesmo se repetiu no terceiro round e Renan venceu com sobra, somando sua nona vitória no UFC, a trigésima quarta da carreira e a primeira no peso pena.

A cada minuto que se passa dentro do octógono, Renan Barão parece se adaptar melhor a nova categoria. O brasileiro, que estava acostumado a enfrentar lutadores menores, está tendo uma experiência completamente diferente, mas apesar de tudo isso, essa divisão de peso pode valer muito mais a pena para ele, tanto em relação a saúde (que é o mais importante) quanto a resultados.

Nos últimos dois anos, Antonio Pezão é sinônimo de ser nocauteado com extrema facilidade. Dessa vez, ele acabou novamente no chão, mas lutou muito melhor do que em suas últimas lutas.

Pezão entrou com uma obediência tática raramente vista em suas últimas lutas, lutando da média pra longa distância, boa variação de chutes e com um sistema defensivo funcional no primeiro round, mas só isso não foi suficiente, ainda mais numa categoria tão devastadora. Roy Nelson é um nocauteador nato, apesar de seu jiu-jitsu excelente pra media do nível da categoria, ele sabe lutar muito bem em pé, encontrando ângulos e aberturas para entrar com um golpe que derrubaria facilmente um Antonov 225, quem dirá um ser humano. Apesar do guarda fechada que Antonio vinha usando, ele acabou abrindo brechas durante a luta, e Roy Nelson capitalizou nisso quando Pezão abriu a última, entrando com um uppercut diabólico e mandando o brasileiro para outra dimensão.

Quando se coloca um peso pesado em decadência (com todo respeito, mas é a realidade) e com uma resistência a golpes baixíssima para enfrentar um peso pesado que tem um queixo quase indestrutível e um poder de nocaute assustador até para lutadores daquele tamanho, o resultado tem tudo para ser o pior possível para o primeiro. Espero que Pezão repense sua carreira, principalmente pela sua saúde, e se quiser continuar lutando, que vá se aventurar num Rizin da vida, pois já está sem espaço no UFC.

Além disso, Francisco Massaranduba, o melhor lutador que saiu da primeira temporada do TUF, fez mais uma vítima e conseguiu mais uma grande vitória. Dessa vez, o adversário foi o duríssimo Paul Felder, que não é tão duro quanto Massaranduba. Francisco Trinaldo venceu todos os rounds, foi melhor em pé e na luta agarrada e se firma de vez na categoria, talvez até entre no top 15.

Destaque também para Eric Spicely, Michel Prazeres, Rani Yahya e Jussier Formiga.

Confira todos os resultados e bônus oficias:

Cristiane Justine venceu Lina Lansberg por nocaute técnico (socos) aos 2m29s do R2

Renan Barão venceu Phillipe Nover por decisão unânime (29-28, 29-28 e 30-27)

Roy Nelson venceu Antônio Pezão por nocaute aos 4m10s do R2

Francisco Massaranduba venceu Paul Felder por interrupção médica aos 2m25s do R3

Eric Spicely venceu Thiago Marreta por finalização aos 2m58s do R1

Godofredo Pepey venceu Mike de La Torre por finalização aos 3m03s do R1

Michel Trator venceu Gilbert Durinho por decisão unânime (triplo 30-27)

Rani Yahya venceu Michinori Tanaka por decisão unânime (triplo 29-28)

Jussier Formiga venceu Dustin Ortiz por decisão unânime (30-27, 29-27 e 29-28)

Erick Silva venceu Luan Chagas por finalização aos 3m57s do R3

Alan Nuguette venceu Steven Ray por decisão unânime (29-28, 29-28 e 30-27)

Vicente Luque venceu Hector Urbina por nocaute a 1m do R1

Gregor Gillespie venceu Glaico França por decisão unânime (triplo 29-27)

Luta da noite: Erick Silva x Luan Chagas

Performance da noite: Eric Spicely e Vicente Luque



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Lutas

Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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