Derrota de Conor revive o eterno “achismo” de brasileiros sobre seus ídolos sempre serem “comprados”, injustiçados e insuperáveis

Neste sábado, 5, o UFC 196 foi mais um evento que entrou para a história. O americano Nate Diaz entrou de última hora para substituir Rafael dos Anjos, mais...

Neste sábado, 5, o UFC 196 foi mais um evento que entrou para a história. O americano Nate Diaz entrou de última hora para substituir Rafael dos Anjos, mais exatamente com menos de duas semanas para o dia do combate, e enfrentou o invicto e campeão peso pena Conor McGregor.

(Foto: Jason Silva)

(Foto: Jason Silva)

Com pouco tempo para que o desafiante pudesse perder peso, Conor aceitou o combate na categoria meio médio, e já fazia previsão de após a vitória, enfrentar o campeão meio médio ‘ruthless’ Robbie Lawler. O que ele não contava era que Nate Diaz fosse “jogar água no seu chop” e lhe finalizasse com um mata leão no 2º round.



A derrota de Conor representou a perda de sua aura imbatível, pode representar uma pequena queda no seu ‘hype’, entre outras coisas. No entanto, após a luta, vi os milhares de comentários fazendo críticas, comemorando e vibrando com a derrota de ‘the notorious’. Ainda mais, vi vir à tona mais uma série de comentários que relembravam a luta contra o ex campeão peso pena José Aldo Jr, comentários que falavam sobre aquela luta ter sido comprada, vendida, golpe de sorte e por aí vai.

É interessante ver esse estilo brasileiro, esse estilo de achar que nossos lutadores são imbatíveis, que são insuperáveis, que os atletas de outros países não possuem a capacidade de superar os nossos, que nós somos os melhores do mundo. Temos os mais variados exemplos para representar isso.

Quando Júnior Cigano nocauteou Cain Velasquez, tudo aconteceu porque o brasileiro era muito melhor do que o americano de ascendência mexicana;
Quando Fabrício Werdum finalizou Cain Velasquez, foi simplesmente porque “vai cavalo” é o verdadeiro monstro. Por mais que houvesse um interesse da Organização em que o brasileiro se tornasse campeão, não lembro de terem cogitado por aqui que tivesse havido ‘compra” ou “venda” de luta;
Quando Anderson Silva tirava os oponentes para nada, simplesmente devia-se ao fato dele ser o melhor de todos, e assim se transformou em uma lenda. Nunca foi colocado em “cheque” o fato dele ter enfrentado poucos adversários com grande qualidade, a maioria fraco ou mediano – ninguém está aqui questionando os feitos de Anderson e nem sua belíssima história – , nem mesmo a sua não vontade de enfrentar Chris Weidman serviu para abalar seu ‘status’;
Quando Aldo chegou de mansinho no WEC, depois se tornou campeão da maior Organização do mundo e também o melhor lutador do planeta, tudo isso devido ao seu esforço próprio, ao seu talento e dedicação, sem ajuda e nem colaboração de ninguém;
Quando Renan Barão acabava com todos no peso galo do Ultimate, “fãs” cogitavam que Dominick Cruz estava fingindo lesão para não ter que enfrentar o lutador brasileiro;
Quando Werdum chocou o mundo ao finalizar o imbatível Fedor Emelianenko, aaah, “#ChupaFedor”, aqui é Brasil;
Wanderlei Silva fez história nos tempos áureos do Pride, e é considerado lendário até hoje, não tendo sido questionado que a maior parte de seus adversários eram de nível fraco para mediano – novamente ninguém está aqui para questionar nada, Wanderlei é uma lenda e tem um grande legado, estamos apenas mostrando os fatos;

Fabrício Werdum finaliza 'the last emperor' Fedor Emelianenko e entra para a história

Fabrício Werdum finaliza ‘the last emperor’ Fedor Emelianenko e entra para a história (Foto: Reprodução)

Em contrapartida aos fatos citado acima, temos Ronda Rousey, que era a lutadora mais querida pela Organização, foi nocauteada em sua última luta e perdeu o cinturão, mas não houve questionamentos de luta comprada ou vendida, apenas que Rousey era uma lutadora fraca;
Aliás, em 2015, Demetrious Johnson (peso mosca) e Robbie Lawler (meio médio) foram os únicos lutadores que começaram e terminaram o ano como campeões. Em todas as categorias restantes, novos campeões surgiram em 2015, mas apenas a derrota de Aldo foi questionada, quando disseram ter sido uma luta comprada ou que Conor McGregor venceu por um golpe de sorte – apesar desse erro de Aldo ter sido cometido durante toda sua carreira e também depois que o irlandês falou várias vezes que o brasileiro tinha esse erro e que iria nocauteá-lo bem naquele lugar;
Mais um fato envolvendo Conor McGregor é que o irlandês enfrentou um top 10 dos pesos penas (Denis Siver) e mais dois tops 5 (Dustin Poirier e Chad Mendes), nocauteando todos. No entanto, para grande parte dos telespectadores do MMA, ele não merecia ainda disputar esse cinturão, sendo que esse caminho é normal e até superior ao de muitos outros que os fãs dizem merecer por já a oportunidade. Só para um exemplo, Rafael dos Anjos venceu 3 oponentes em sequencia antes de disputar o cinturão, sendo um deles top 15 nos leves (Nate Diaz) e apenas um top 5 (Benson Henderson), mas ninguém questiona o fato dele ter ganhado a oportunidade;
Nos peso médios, Ronaldo Jacaré vinha de 5 vitórias consecutivas e todos diziam ser injustiça não dar logo a ele um ‘title shot’. O cubano Yoel Romero vinha de 6 vitórias consecutivas, sendo uma sobre o top 5 Lyoto Machida, mas ainda assim o público achava que Jacaré era o grande injustiçado e que tinha que passar na frente de todos;
Chris Weidman lutou em pé contra 3 dos maiores ‘strikers’ que já passaram pelo MMA (Anderson Silva, Lyoto Machida e Vitor Belfort). Antes disso, foi para o chão com Demian Maia e se saiu muito bem. Mas ainda assim, diziam que ele não era um campeão de verdade, que era um campeão fraco, que tinha sido sorte, e mil e umas desculpas a mais, incluindo a clássica “luta comprada” quando o pupilo de Ray Longo nocauteou a lenda Anderson Silva.

Weidman nocauteia Anderson e surge fã lançam boatos de compra/ venda de luta (Foto: UFC)

Weidman nocauteia Anderson e surge fã lançam boatos de compra/ venda de luta (Foto: UFC)

Bom, essa é uma lista de fatores que dá para se ter uma idéia sobre como as situações são encaradas pelo público do nosso país. Perante isso, várias perguntas, questionamentos, ficam no ar. Será que nossos maiores lutadores são vadios assim, que sempre se vendem por um dinheirinho na boa? Será que os atletas dos outros países são tão fracos e incompetentes que para nos vencerem precisam sempre comprar a luta? São incapazes de nos superar? Será que somos tão tops que não podemos ser superados, passados para trás, de forma justo, por meios comuns, apenas por meio do qual nós permitimos?

Não sejamos tão cego pessoal. Analisemos as situações, busquemos melhor os fatos, acompanhemos melhor o que acontece e depois façamos comentários. Nessa situação, vale muito aquele ditado que diz “É melhor ficar calado e deixar te acharem um idiota do que abrir a boca e fazê-los ter certeza”.

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Pai, marido, neto, amante da família; filho de Deus; Graduando em Comunicação Social (Rádio e TV) na Universidade Federal do Maranhão; Editor chefe do Nocaute na Rede, sonha em seguir carreira na área esportiva; Redator nas seções de MMA nacional e internacional; Apaixonado por rádios, jornais, livros, podcasts, filmes, séries, comidas, esportes em geral (principalmente MMA, futebol e basquete); Praticante de MMA e muay thai;
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