Luke Rockhold: Cauteloso no hostil peso meio-pesado

Kauê Macedo analisa a mudança de categoria de Luke Rockhold
Luke Rockhold (Foto: Reprodução)

Luke Rockhold (Foto: Reprodução)

Luke Rockhold teve sucesso como peso médio e escreveu seu nome na história do MMA ao nocautear Chris Weidman no UFC 194, conquistando assim o cinturão até 84kg do UFC. Agora, aos 34 anos e após ser massacrado por Yoel Romero, Rockhold confirma a mudança de categoria para o peso meio-pesado.

Muito foi especulado após o anúncio de mudança de categoria, principalmente uma possível estreia contra Alexandre Gustafsson. O sueco é o atual número 2 no ranking oficial do UFC e foi desafiante ao cinturão em três oportunidades diferentes, duas contra Jon Jones e uma contra Daniel Cormier.



Se não me falha a memória, Rockhold nunca enfrentou um adversário mais alto do que ele. Com 1,91m (6 ft 3 in), ele era um dos maiores da categoria e surpreendia pela capacidade de bater o peso de 84 kg.

 

Gustafsson é mais alto que Rockhold (1,96m, 6 ft 5 in), tem uma movimentação mais intensa e é superior tecnicamente na trocação. A vantagem do americano seria no jiu-jitsu, mas o sueco ostenta uma defesa de quedas que foi capaz de dar muito trabalho a wrestlers do mais alto nível, como Jones e Cormier.

O sueco entra facilmente na lista dos maiores lutadores da história do UFC que nunca se tornaram campeões e seria um passo extremamente arriscado para Rockhold. Ao invés disso, o agora oficialmente ex-peso médio mostrou cautela para adentrar o hostil território dos meio-pesados e será recebido por Jan Błachowicz, atual número 6 no ranking da categoria.

Contra Błachowicz, Rockhold não enfrentará logo de cara o desconforto de um combate contra um adversário maior. A cautela do americano começa aí, mas a parte principal se refere ao nível técnico do adversário.

Rockhold tem um jogo muito completo, é um verdadeiro artista marcial. Com um ótimo controle de distância, ele trabalha muito bem as variações de chutes, ficando fora do alcance do adversário ao aplica-los, além de um boxe técnico ofensivamente, com bons golpes longos e retos.

 

Rockhold nocauteou Costa Philippou com uma sequência de chutes no corpo, aplicados a uma distância mais longa que o habitual para a maioria dos lutadores, que apenas é possível devido ao controle de distância e a vantagem de envergadura.

 

A fluidez de Rockhold na trocação é grande e seu arsenal ofensivo é bem diversificado. Na primeira luta contra Michael Bisping, um verdadeiro massacre, o americano aplica o chute mundialmente conhecido como brazilian kick.

 

O timing no contragolpe é bom, ainda mais quando o adversário é previsível. A principal arma para conter as investidas de seus adversários é o cruzado de direita (a mão da frente na base de canhoto), que incomodou muito Bisping na primeira luta.

 

 

O arsenal diversificado de Rockhold naturalmente acaba aumentando sua imprevisibilidade, que é incrementada com boa técnica e pouca exposição do que faz. Com um chute alto rápido e que confunde o nível que será aplicado até metade de sua execução, Rockhold levou Bisping à knockdow.

Defensivamente, ele peca bastante, principalmente por lutar de guarda baixa, queixo alto e com pouca cautela em relação aos contragolpes, o que resultou na perda de seu cinturão na vexatória derrota para Michael Bisping.

 

A noite mais trágica da carreira de Rockhold foi também o final de seu curto período como campeão do UFC. Entrando com um jab e saindo sem levantar a guardar e proteger o queixo, Bisping conectou o melhor golpe de sua vida, um potente e preciso cruzado de esquerdo (a mão da frente na base de destro), que levou o campeão ao primeiro knockdown da luta, seguido do mesmo golpe que o deixou praticamente nocauteado de imediato.

 

Contra o perigosíssimo Yoel Romero, segundo melhor peso médio do planeta, Rockhold fazia uma luta parelha, sem muitos erros, mas com um equivocado contragolpe (o mesmo cruzado de direita explicado anteriormente), acabou engolindo um poderoso cruzado de esquerdo, caindo praticamente inconsciente.

O grappling de Rockhold tem pontos muito fortes e pontos fracos. Seu jiu-jitsu é excelente, tem um controle posicional muito eficaz e um ótimo jogo de transições e passagens de guarda, além de um arsenal de finalizações muito perigoso, tanto por cima quanto por baixo.

O que peca é seu wrestling, limitado tanto ofensiva quanto defensivamente. Chris Weidman, wrestler de elite e All American na NCAA, não teve muitas dificuldades em completar suas quedas contra Rockhold, derrubando o desafiante em 3 oportunidades diferentes. David Branch, Tim Kennedy e, principalmente, Ronaldo Jacaré também fizeram o mesmo.

 

Chris Weidman encurta a distância, evita o tradicional contragolpe com cruzado de direita e entra em queda na altura da linha de cintura, aplicado com ótimo controle e seguido de uma perigosa tentativa de pegar as costas.

Parte importante de seu grappling defensivo é o jiu-jitsu por baixo, onde tem uma guarda ativa e um vasto arsenal de finalizações. Chris Weidman, por exemplo, sofreu muito com as tentativas guilhotinas ao mudar o nível da luta e colocar para baixo.

 

O reflexo de Rockhold para defender as quedas não são tão rápidos, mas seus braços praticamente envolvem o pescoço de Weidman naturalmente toda vez que o mesmo avança para as suas pernas.

 

Após o brutal chute alto que levou Bisping à knockdown, Rockhold foi extremamente rápido em encaixar uma guilhotina num milésimo de segundo. Weidman foi capaz de sobreviver, Bisping não.

Ninguém duvida do potencial técnico de Luke Rockhold, nem mesmo como meio-pesado. É necessário observar com atenção o avanço físico que ele terá com praticamente 10 quilos a menos para cortar e ver a diferença que isso realmente faz na prática.

Existem desafios enormes para Rockhold no meio-pesado, muito mais difíceis do que no peso médio, principalmente porque o campeão da categoria, Jon Jones, é o melhor lutador da história do esporte.

Começar na categoria se testando contra um adversário menor e tecnicamente inferior em praticamente todas as áreas foi um passo estratégico muito inteligente por parte de Rockhold, só basta ser executado com cuidado.

Se Anthony Smith, com passos seguidos por Thiago Marreta, subiu de categoria e chegou a disputar o cinturão, Luke Rockhold, superior tecnicamente aos dois, tem tudo para se destacar na categoria, basta ter a mesma cautela, gerenciar bem a carreira e parar de pedir para enfrentar Alexander Gustafsson sem necessidade.



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Jornalista freelancer. Matérias publicadas em Nocaute na Rede, Correio Paulista, Medium, Shion Magazine, NetFighter e Pitaco Esportivo. contato: [email protected]
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