Quando a arte encontra a violência

O clima fechou no UFC 229.
Khabib Nurmagomedov voa em direção ao lutador Danis Dillon (Foto: mmajunkie.com)

A luta principal do UFC 229 ocorreu como a maioria dos fãs esperava. Khabib Nurmagomedov conseguiu impor o seu jogo e finalizou Conor McGregor, com um mata-leão, aos 3:03 minutos do quarto round.

Após a vitória, o russo quase estragou o que deveria ser a maior noite da história do UFC. Em um ataque de fúria, pulou o octógono e voou para cima de Danis Dillon, treinador de jiu-jitsu de Conor, que havia provocado o russo antes e durante a luta.



Aliás, não foi só Dillon que provocou a ira de Khabib. Como já é de praxe, Conor falou bastante antes do combate. Com a língua afiada, o irlandês atacou o país, a religião, o empresário e até o pai do campeão peso leve do UFC.

O resultado foi uma pancadaria generalizada entre os membros das duas equipes que, só não terminou de forma pior, porque policiais e seguranças conseguiram apartar a confusão.

Khabib é contido por seguranças (Foto: Thenational.ae)

Logo após o ocorrido, a internet foi invadida por gritos de ordem contra o campeão. Fãs inconformados exigiam a perda do cinturão; outros, mais nervosos, queriam ver o russo na cadeia. Khabib foi acusado de botar a integridade dos fãs em risco e de denegrir a imagem do esporte.

Os paladinos da moral e dos bons costumes só esqueceram de um detalhe:

 O MMA é um esporte onde arte e violência se encontram.

É impossível que essa convivência seja pacífica 100% do tempo. Se assim fosse, estaríamos em um esporte praticado por robôs, onde a emoção não teria vez. Graças a Deus, esse não é o caso. Estamos falando de seres humanos que acertam e erram o tempo todo.

Errar é humano e Khabib Nurmagomedov errou. É justo que ele seja punido. Alguns meses de suspensão e uma multa são penas totalmente aceitáveis e merecidas. Porém, retirar o cinturão do campeão me parece ser um crime muito maior do que aquele que ele é acusado de cometer.

No final das contas, ele atacou um lutador profissional. Não fez nenhuma covardia. Dillon sabe muito bem se defender. Arriscaria dizer que ele acertou mais socos em Khabib do que o próprio Conor…

Danis Dillon (Foto: amedpost.com)

Brincadeiras à parte, é importante dizer que a confusão que aconteceu no UFC 229 não é ‘’privilégio’’ do mundo do MMA. Situações como essa acontecem no futebol, basquete, rugby. Às vezes, com muito mais frequência do que nos eventos de artes marciais mistas.

Portanto, essa história de ‘’denegrir a imagem do esporte’’ está obsoleta. Se uma pancadaria não denigre a imagem do futebol ou do rugby, por que denegriria a imagem do esporte que mais cresce no mundo? O MMA está consolidado. Você vai parar de assistir aos eventos do UFC porque o Khabib quis dar uns tapas no Dillan? Eu não vou.

É importante pararmos de ser hipócritas. Se esse tipo de situação é tão nociva para o esporte, gostaria de saber por que a cena em que Conor McGregor joga um objeto de metal contra o ônibus do UFC foi repassada em todos os vídeos que promoveram a luta. Todos hão de concordar que essa é uma cena violenta, não é? Os fãs deixaram de assistir ao UFC 229 por causa disso? Pelo contrário, Dana White confirmou que a venda de pay-per-view foi a maior da história da companhia.

Conor foi preso após o ataque ao ônibus do UFC (Foto: Thedenverpost.com)

Tenho absoluta certeza de que, se Conor McGregor conseguir a revanche contra Khabib, o UFC fará uma campanha publicitária pesada explorando as cenas da pancadaria do UFC 229. E, provavelmente, a segunda luta será ainda maior que a primeira.

Nós gostamos de uma boa narrativa. Gostamos de quando o lutador que perdeu o pai durante as gravações do TUF escolhe ficar na casa, chega até à final e ganha o programa ; gostamos de quando o lutador que sofreu um acidente gravíssimo de moto volta a lutar e conquista o cinturão do UFC.  Porém, não há nada mais emocionante do que ver rivais se enfrentando. Nada.

Khabib e Conor se encaram na coletiva de imprensa (Foto: Thedenverpost.com)

Aqueles que tentam popularizar o MMA querem transformá-lo em algo que ele não é. O azar deles é que os números não mentem ; nossos corações também não. Se você ficou horrorizado com o que aconteceu no UFC 229 e não tem mais vontade de acompanhar as artes marciais mistas, talvez esse esporte não seja pra você. Eu, por outro lado, mal posso esperar pela revanche.

O politicamente correto faz as pessoas pintarem situações que não condizem com a realidade. Parem de tentar transformar tudo em um mundo cor de rosa. Vocês estão buscando perfeição em um universo imperfeito. Quando a arte não conseguir controlar a violência, tudo bem. Faz parte de um esporte feito de instinto e emoção. Nós sabemos que, depois de uns minutos, esses elementos voltam a conviver pacificamente em um mundo para poucos. E é um privilégio fazer parte dele.



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Advogado, carioca e tricolor. Apaixonado pelo esporte que mais cresce no mundo. Editor chefe do Coliseu Carioca e redator do Nocaute na Rede. Contato: [email protected]
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